Brazil Climate Summit e a Semana do Clima de Nova York (NYCW) – Vol. 98 – Setembro.2023
Neste volume da Carta da ECCON, abordaremos as discussões internacionais ocorridas em Nova York (EUA), no âmbito do Brazil Climate Summit (Columbia University) e a NYCW – Semana do Clima de Nova York.
Brazil Climate Summit
O Brazil Climate Summit é um evento organizado pela Columbia University e tem por objetivo reunir lideranças, empreendedores, pesquisadores, especialistas, atores políticos, ONGs e instituições multilaterais para discutir oportunidades e responsabilidades do Brasil em um mundo onde os impactos socioambientais são os pilares de um novo modelo de capitalismo. O evento visa discutir o papel do Brasil no cenário mundial.
O evento, riquíssimo em seus painéis e debatedores, chamou atenção para diversos aspectos positivos e negativos da agenda climática brasileira. Abaixo, relacionamos as principais informações compartilhadas pelos painelistas e que contribuem para as discussões que a ECCON fomenta no âmbito das oportunidades de negócios ambientais no Brasil.
Aspectos financeiros
Na temática financeira, Luciana Costa, Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, sugere que seja desenvolvido um novo modelo econômico no Brasil, novos frameworks e colaboração geopolítica. Se alguns países falharem na corrida climática, todo mundo vai ser prejudicado. Apontou que as árvores competem mas também cooperam entre si para sobreviverem e a humanidade tem a apreender com isso.
Entende que o Brasil pode ser um gigante verde. Temos mais de 40 anos de experiência com biocombustíveis e produzimos sustainable aviation fuel (SAF). O país pode ter o hidrogênio verde mais barato do mundo. Mas, um dos grandes desafios do Brasil é o custo de capital.
Karen Fang, diretora do Bank of America, apontou o recente crescimento do “ESG capital market”. Destacou investimentos de grandes emissores em empresas de tecnologia e atividades de baixa emissão, ilustrando que as indústrias marrons (poluidoras) têm feito movimentos de aquisição de negócios verdes e que seus clientes passaram a demandar investimentos mais verdes.
Na visão de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil, a macro estabilidade é necessária para crescimento e atingimento de metas climáticas. No mesmo sentido, Joaquim Levy, ex-Ministro da Economia, sugeriu que o Brasil faça boas parcerias com países e empresas relevantes, pois somos uma solução para o clima.
Emissões de gases
Em relação às emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), Shari Friedman, diretor da Eurasia, apontou que o mundo tem emitido 35 gigaton de co2 e deveria estar emitindo abaixo de 20 gigaton. Reforçou que as empresas precisam olhar para as suas atividades e seguir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) com mais seriedade. Destacou o alto risco climático para o sistema financeiro e a necessidade de fomento de investimentos com natureza ESG (“Environmental, Social and Governance”).
Michael Stott, editor do Financial Times, informou que a média global de temperatura já subiu 1,1 grau. Nessa mesma linha, Paula Caballero, diretora da The Nature Conservancy (TNC), apontou que ainda estamos fazendo “business as usual” e que precisamos de mais inovação e mudanças. Lembrou que migramos de um modelo em que apenas países desenvolvidos tinham metas para um sistema de metas de todos os países.
Bruce Usher, professor da Columbia Business School, demonstrou que investir em energia renovável, carros elétricos e armazenamento de energia pode reduzir as emissões globais em 50% nos próximos 30 anos. Para a transição, é necessário investir em tecnologias já existentes, em tecnologias em desenvolvimento, mas principalmente em Soluções Baseadas na Natureza (SBN), como conservação, restauração e melhoria de práticas produtivas. Podemos tentar ajustar o cenário tendencial, ou “business as usual”, mas para sermos efetivos nas mudanças, precisamos alterar os sistemas.
Tony Lent, co-fundador da Capital for Climate, apontou que 37% das emissões globais podem ser solucionadas com soluções baseadas na natureza e que 74% das emissões do Brasil estão relacionadas com o uso da terra.
Por sua vez, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), comentou que a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas são temas relacionados e o Brasil é um importante hub para soluções nessas frentes. Brasil é um climate hub.
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, lembrou que o Brasil é o 5º maior emissor de GEE do mundo e que, portanto, são necessárias soluções nacionais. O país pode liderar o processo de transição energética. Destacou que, atualmente, não há tensão no Congresso com relação ao Projeto de Lei nº 412/2022, atualmente em trâmite, que pretende regular o mercado de carbono brasileiro. Destacou que, historicamente, o Congresso tem aprovado leis que acabam facilitando o desmatamento e que isso precisa mudar. Lembrou, por fim, que o Brasil tem um papel fundamental, pois terá a presidência do G20, dos BRICS e sediará a COP30 em 2025.
Andrew Winston, escritor expert em mudanças climáticas, apontou que já é consenso que mudanças climáticas estão ocorrendo, mesmo entre as indústrias mais conservadoras. Já se entende também que o custo da inação é maior que o custo da ação. Destacou que há offsets de alta e baixa qualidade.
Mercado
O Professor Marcos Jank, do Insper, apontou que o Brasil passou a ser exportador de commodities quando investiu em tecnologia tropical, com a correção de solos ácidos, desenvolvimento de variedades, desenvolvimento do Sistema de Plantio Direto (SPD), uso de safra e safrinha e integração de lavoura e pecuária. Destacou que 35% das exportações do Brasil vão pra China (o que, na opinião de Jack Hurd, diretor executivo da Tropical Forest Alliance, significa que a China deve participar das discussões sobre desmatamento no Brasil).
O país tem 80 milhões de hectares para o agro e 160 milhões de hectares para criação de gado. O Brasil produz 3 vezes mais por hectare do que a média mundial.
Plinio Ribeiro, co-fundador da Biofílica Ambipar, apontou que, em 2022, o mercado de carbono girou em torno de USD 1 bilhão. Destacou que o carbono no solo tem outras vantagens (além da geração de créditos), como o aumento de produtividade.
Paula Kovarsky, vice-presidente de estratégia e sustentabilidade da Raizen, apontou que o uso de etanol no Brasil começou como uma solução para a segurança nacional em relação à situação geopolítica da época. Atualmente, está mais atrelado à sustentabilidade. Comentou que a eletrificação não é solução para todos os tipos de veículos. Para aviões, biocombustíveis têm sido uma solução melhor porque o peso é 20 vezes menor do que o peso de uma bateria.
Luís Guimarães, CEO da Cosan, destacou a necessidade de capital, formação de pessoas, simplificação de processos de licenciamento e regulação. Apontou a necessidade de buscarmos food security, energy security e carbon security.
Na visão de Raphaella Gomes, CEO da Floen, o hidrogênio verde (green hydronen ou low carbon hydrogen) pode ser uma boa solução para alguns setores, mas não necessariamente é uma solução aplicável para qualquer situação. Apontou que precisamos de dinheiro paciente e iniciativas de longo prazo porque o tema climático não é resolvido em pouco tempo. Reforçou que as empresas precisam se envolver.
Thiago Picolo, CEO da re.green, destacou as iniciativas e desafios enfrentados pela empresa para realizar a restauração em larga escala no Brasil. A empresa busca ser uma referência internacional nesse aspecto.
Helder Barbalho, governador do Pará, destacou que precisamos de um pacto nacional e internacional contra atividades ilegais. A floresta viva tem que valer mais que floresta morta. Só o instrumento de comando e controle, que foca em fiscalização, não será suficiente para controlar o que acontece na Amazônia. A transição para uma economia verde é necessária. O governador destacou que o Brasil quer ser protagonista da agenda climática, mas não podemos ser vistos como vilões.
Educação
Kamilla Camillo, fundadora do Instituto Oya, destacou a necessidade de comunicação para mudar comportamentos e destacou que não há formas de fazer isso em menos de 10 anos.
Ilona Szabó, presidente do Instituto Igarapé, apontou que a Amazônia hoje tem que lidar com o crime organizado e que esse bioma é o que nos resta para ter um papel relevante no mundo. Sendo assim, devemos agir retirando economias ilícitas e fomentando o desenvolvimento de novas tecnologias da floresta, como a bioeconomia.
Por sua vez, Amanda da Cruz Costa, fundadora da Perifa Sustentável, apontou que temos Soluções Baseadas na Natureza, mas que também há Soluções Baseadas na Quebrada e Soluções Baseadas na Favela.
Climate Week NYC
A Semana do Clima de Nova York, ou NYCW, é um dos maiores eventos climáticos anual da atualidade. Este ano o evento contou com mais de 400 eventos e atividades na cidade.
A NYCW segue a reunião anual do Pacto Global da ONU e ocorre durante a semana da Assembleia Geral da ONU, onde chefes de estado discutem temas importantes de ordem global. Em 2023, a ECCON e a Reservas Votorantim participaram conjuntamente da NYCW organizando dois eventos:
• Fostering Forest Carbon Credits in Brazil: Perspective and Case Studies;
• Market opportunity: high integrity Brazilian forest carbon project.
No primeiro evento, apresentamos três projetos de REDD+ e lançamos a versão 2.1 da Metodologia do PSA Carbonflor, discutindo perspectivas e estudos de caso brasileiros. Contamos com a participação presencial de 30 pessoas e outras 35 acompanharam online.
Esse evento e nossa metodologia PSA Carbonflor repercutiram no Valor Econômico, na Exame, no Capital Reset e no The Shift.
Já no segundo evento, apresentamos detalhes dos nossos créditos de carbono, nas modalidades de VCUs (Verified Carbon Units, emitidos pela Verra) e C+ (Carbono Plus, emitidos dentro do programa PSA Carbonflor), e negociamos ofertas recebidas das instituições e investidores presentes.
Durante esta semana, em que participamos de mais de 50 reuniões e eventos, ficou clara a necessidade do Brasil se colocar como parte da solução. O País pode aumentar sua produção de alimentos, através da intensificação sustentável; a produção de energia verde, com hidrelétricas, eólicas, solares e a produção de hidrogênio verde; e o sequestro de carbono, através de restauração, conservação e desenvolvimento de modelos onde a floresta em pé tenha mais valor que áreas já convertidas.
Para isso é necessário um planejamento integrado envolvendo o setor público, privado e o terceiro setor, ilustrando os nossos avanços sociais e climáticos, ao mesmo tempo em que se trabalha a melhoria da infraestrutura, educação e governança. O Brasil pode ocupar um novo lugar na geopolítica global, mas precisa estar pronto e ser instado a ocupar este lugar.
Oportunidades no curto prazo neste papel de liderança não vão faltar, como a presidência do G20, dos BRICS e a recepção da COP30 em Belém/PA, no ano de 2025.
Nota-se um consenso quanto à proximidade do ponto de não retorno da Amazônia, mas não podemos nos esquecer dos outros importantes biomas que temos aqui. A Amazônia, importante ator de regulação climática, serve com um “ar-condicionado” do planeta, mas devemos lembrar também que o Cerrado é a caixa de água da América do Sul e já perdeu aproximadamente 50% de sua vegetação nativa.
Na Mata Atlântica, mais de 85% da cobertura original já foi perdida e não podemos medir esforços em conservar os remanescentes naturais. Precisamos, também, ter clareza de que o Pantanal é um importante refúgio de biodiversidade do Brasil e que na Caatinga passam importantes rios e há muito potencial de produção de energias renováveis.
As nações desenvolvidas pedem para conservarmos nossas florestas, não se dando conta dos esforços públicos e privados para tanto. Nesses biomas vivem milhões de brasileiras e brasileiros que buscam uma vida digna e que estão abertos a participar de uma economia inclusiva e sustentável. Só precisam saber o que fazer, tal como retratou Luciano Huck e seu novo amigo Roberto, da comunidade de Tumbira, no Estado do Amazonas.
Compradores internacionais são rígidos quanto ao fim do desmatamento, mas não se dão conta da existência de instrumentos legais como o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) que determina a conservação de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, áreas que podem ocupar entre 20% e 80% da propriedade e que devem ser conservadas com vegetação nativa. Os produtores buscam meios para tornar a conservação parte de seu modelo de negócio, afinal, os benefícios climáticos difusos gerados por estas áreas não se limitam ao estoque de carbono, mas incluem a biodiversidade de fauna e flora, incluem também a formação de corredores ecológicos em torno das nascentes e rios, asseguram o abastecimento de água potável para boa parte da população, além de contribuírem para a regulação do clima em escala local, regional e global.
Ou seja, a produção no Brasil alimenta pessoas e animais, dentro e fora do país, ao mesmo tempo em que presta inúmeros serviços ambientais, os quais precisam ser diferenciados e remunerados.
O mercado internacional clama por projetos de carbono capazes de viabilizar a compensação ou “offset” de emissões e compromissos de neutralização feitos por empresas e países. Mas poucos estão abertos a entender e fomentar projetos florestais levando em conta o arcabouço jurídico existente para o desenvolvimento de projetos de REDD+ e pagamentos por serviços ambientais, tipos de projetos em que o Brasil se destaca internacionalmente.
Com isso, fica claro que, se dependermos da vontade e dos interesses dos estrangeiros, continuaremos sendo o país do futuro, mas não do presente. E aqui estamos restritos à análise de vontade e de interesse, sem qualquer discussão quanto a responsabilidades ou passivos históricos, que são para outra discussão.
O Brasil precisa agir. E uma parcela está agindo com bastante inteligência e entusiasmo, como vimos nestas últimas duas semanas em Nova York. Centenas de brasileiros pertencentes a empresas privadas, ONGs, instituições de pesquisa e governo foram mostrar o que fazem, discutir propostas, abordar oportunidades e tratar de investimentos. Deu orgulho de sermos brasileiros.
Nós da ECCON Soluções Ambientais fizemos o nosso papel. Após meses de preparação e investimentos, fomos a Nova York para falar, abordar, discutir, provocar e resolver. E, claro, para ouvir e aprender.
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